10/09/2010

Palavras a um escritor de sonhos


Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto - e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente. Mas é um vazio extremamente perigoso: dele arranco sangue. Sou um escritor que tem medo da cilada das palavras: as palavras que digo escondem outras - quais? Talvez as diga. Escrever é uma pedra lançada no fundo do poço. (Clarice Lispector)


Será difícil expor em pequenas palavras a grandiosidade do momento. Momentos que se tornam ímpares na vida de cada escritor. Escritor de encantos e de cantos diversos, escritor que vislumbra o tempo e as situações menos perceptíveis pelos transeuntes de uma cidade tão tentacular. São Paulo, beldade de concreto diante da singularidade de cada metáfora.
Como diz o poeta em um de seus escritos, uma cidade do seu tempo ou de tempos remotos para aqueles que assim preferem. E reafirma “Não sei se por encanto ou desencanto não as encontrei em nenhum canto”. Saudades de um tempo de lembranças e do contato mais humano, mais direto que o homem oportunizava no seu dia a dia.
Ah! Em que canto você está? Assim em alto tom indaga a seus leitores. Estarás sozinho em seu canto ou necessita de palavras para compor o seu canto? Canto de solidão ou de insensatez? Canto de euforia ou de melancolia? Poeta andante, de palavras em forma de prosa, traz na sua magnânima performance escrita uma adjetivação particular de poucos que percebem nos sentimentos, nas expressões corriqueiras a sensibilidade de um tempo sem alma ou seria sem calma. Todos, na sua angústia, esquecem-se do tempo e se servem ao tempo. São então homens subumanos quando não se percebem no mundo.
Claro. Não são todos os meros passantes que se movem diante deste tempo.
Na sua primeira gestação, como assim menciona, o nobre escritor apresenta “uma história não sei se em prosa ou poesia, mas sei que de suas facetas trazem consigo um povo sofrido e vivido”. Uma cidade que diante da sua extensão, cresce, incha, inflama – verbos que remetem a uma população sem rumo. E necessariamente, um dos fatores que é chave deste turbilhão é a escola, sem significância para muitos; a família sem identidade; a cultura aculturada e a televisão como grande condicionadora dos demais caminhos.
E então questiona “Tudo pode começar com educação?” Querer discutir sobre tema tão permissivo na teoria, embora tão complexo na prática hodierna. Que educação se faz e se oferece aos nossos educandos? Tarefa árdua, mas promissora. Não se fazem homens sem que antes se tenha o desejo de mudança. E compactuando com este desejo de estraçalhar a estandardização que a sociedade circunscreve, as tessituras de seus escritos se fundem e convida cada leitor a ser Leitores, promover um encontro com o livro. Acoplado ao convite, a certeza de continuar na luta em busca de leitores do próprio mundo, um pedido é feito “Falar mais ao ouvido que aos ouvidos, não só concilia maior atenção, mas naturalmente e sem força se insinua, entra, penetra e se mete na alma. Sempre os sábios souberam lidar com esta lida”.
Ás vezes sem rumo, outrora sem prumo para compor sua melodia. Desfaz em palavras seus versos e na conjuntura da narrativa indaga, questiona, propõe ser escritor de palavras, porque um escritor quer ir além; não quer meras palavras, quer tocar o leitor e propor reflexões, diálogos e quem sabe possíveis discussões. No momento da leitura de tão belas palavras é o momento do encontro do leitor com seu espelho e diante deste, o livro, se percebe presente, seu reflexo.
Enfim caro escritor, abrem se as páginas de um novo livro, o livro da história, da memória e neste estás suas simples e grandiosas palavras que vão marcar aqueles que se despirem das amarras do tempo e se libertarem para a leitura. Destarte, trago apenas um segredo proferido por Mario Quintana “O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você”.
Um grande abraço de pessoas que acompanham suas palavras e se embriagam em cada metáfora pulsante e reflexiva.

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