27/09/2010

Após a tempestade

Não foi um sonho que me tirou o sono. Foi o sonho sonhado, quando ela aparece sua boca num doce retesar mordiscava meus lábios, acho que o batom era a mão do fantasma.

24/09/2010

Visão onírica


Pessoas desciam e subiam a serra dos Brindes. Uma reviravolta indefinida se formava perante aqueles que compunham a cena. Um grupo se afastava, receoso do que poderia acontecer. Outros em transportes, parecia isso, se mexiam como se buscassem algo esplendoroso. Neste iniciar, nenhuma cena se formava, um avassalar de imagens, soltas e confusas. Não se sabia o que seria tecido.
No canto a direita, quase embaixo do morro, ou montanha, uma menina disse a outra. "Vista estes trajes. Com ele você conseguirá fazer parte do grupo". Ela indecisa seguiu aquela ordem. vestiu uma peça de banho, coberta por outra que deixava algumas partes do seu corpo ainda a mostra e desceram até a praça onde tudo aconteceria.
Pessoas tinham como em uma colmeia. Os grupos divididos se perfilavam, cada qual com seus objetivos e suas propostas. Carros estranhos traziam consigo objetos estranhos. Ela observava. Um mosaico de cores naquele dia que parecia noite ou noite que tinha nuances de um dia diferente dos demais. A menina foi se adentrando no meio da multidão, não entendia, nada a esclarecia. Mas de imediato percebeu-se no centro daquele eufórico dia.
Uma arma, um míssel, uma bomba. Algo seria lançado. Com que objetivo? Desconhecia. Talvez para que pudessem demonstrar o seu poder, a capacidade do homem criar e destruir ao mesmo tempo. Ou quem sabe, brincar de ser criança, apontando seus tanques de guerra e destruindo tudo a sua volta. O espaço estava montado. Todos assistiam tudo aquilo como se estivessem em um show pirotécnico. No centro, os artefatos foram montados e em sua frente tudo era afastado diante do perigo mortal que este aparelho trazia para sociedade, mas todos estavam lá, obsevando e aguardando; aguardavam um resultado ou uma vitória de um dos lados? Não se sabe. Defronte, paredes eram montadas para evitar qualquer transeunte, mas sempre alguém curioso testava a proteção e arriscava sua vida. talvez nem soubesse o risco que corria.
O tempo foi passando e o líder do grupo, o representante, pegou em suas mãos aquela bomba e diante do seu magnanime poder a apontou para o mesmo lugar que teria sido planejado o seu disparo. Ele faria o que era pra ser feito, embora estivesse na posição de herói. Em suas mãos estava todo o perigo, mas ele como representante do povo tinha como missão , esta determinada por ele, de ser o grandioso.
Enfim, assim foi disparado, e como não somos e nem temos o controle das situações, a bomba caiu e se direcionou para grande parte da população que estava a sua esquerda. A menina que se posicionava do lado esquedo foi abraçada pela sua mãe que conhecedora do perigo gritava juntamente com a explosão que queimava todos: "Vamos todos morrer, esta tudo queimando" a menina só fez fechar os olhos e sentir o calor intenso das labaredas queimando milhões...
Um silêncio imperou e como no virar de lados deparou com cores apenas, diversas, sobre o chão. Cada cor representava um daqueles que trazia consigo a confiança de ser representado por um dos lados, mas não houve tempo de perceber que o poder humano esta além do que eles imaginam.
Assim silenciou o tempo e as vozes de muitos sem vozes que mantinham vivos dentro de si a esperança de ser melhores, porque faziam parte da política.

Convido-me a me encontrar


Não aguento a pressão dos meus EUS
Ora sol de alvorada
Suave pluma ao vento
Pés sem rumo
Cabelos ao ar
Corpo diáfano

Ora nebulosa
Noites sem elos
Olhar ao longe
Talvez por uma incerta busca
Silêncio secreto da mão de escritor

Ora inquieta
Com indagações constantes
Com palavras irresolutas
Com verdades ditas
Apenas ditas
E há verdades?

Ora coração talhado
Dores intensas
Emociona e dissipa
Em lágrimas de incompreensão

As pessoas não são humanas
Os animais não são animais
Por que na minha teia
Todos são o que não são
E ninguém consegue ascender a luz.

Assim me cala


Durma com os anjos
Se eles não vierem
Faça uma canção
Destas que não tocam no rádio
E cante só pra você ouvir

21/09/2010

Que culpa tenho eu?


O que se faz depois de um abraço?
Ficam marcas eternas
Marcas do calor pulsante que circula nas veias
Marcas do corpo ébrio oscilando em nuvens turvas
Marcas guardadas no cerne da memória
E que por mais distante que seja
Permanece, eternamente, com minudências
Que só um abraço se compõe
Através da tessitura de vozes
Que não ousam em se manifestar
preferem ouvir o som do coral
impregnado na magia do abraçar.

E é este o grande maestro
Regeu com sabedoria quais seriam os passos
Desta orquestra:
Primeiro se abraça e se encaixa
O corpo se finge de ingênuo
Se faz de criança na sua tenra inocência
e guarda contigo cada um os seus mistérios
Os seus desejos
Outrora se esbarram os braços
Se envolvem mais um instante
Sem jeito ainda
Sem muito entender
Se faz de incerto e de insano até
Mas não se pode compor o seu querer

Embora a noite
com presteza e sagacidade
perfila em gofrá-los
com som das vozes, a caricia do tempo
a alegria do encontro
promovido pelo êxtase do AGORA

E no desvendar deste encanto
Braços se cruzam
Talvez incertos ainda
Nem pressentiam o momento
Que estava por vir
Ou quem sabe traziam o guardado, desejado

Mas foi no encontro de toques
No silêncio das vozes
Que o coral se calou
Nem tenores, nem sopranos,
Nem baixos, nem contraltos
Cada naipe desconhecia sua melodia
e com isso a orquestra propôs
outro tom.

Um tom eufórico
Incontrolável
As vozes falavam outras línguas
Vozes de deuses
Com o som ao longe a
Anunciar a euforia
E na explosão dos corpos
Veio no assobiar do vento
A calmaria da noite
e a incerteza de um novo dia
Belo, completo e de encantos

10/09/2010

Palavras a um escritor de sonhos


Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto - e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente. Mas é um vazio extremamente perigoso: dele arranco sangue. Sou um escritor que tem medo da cilada das palavras: as palavras que digo escondem outras - quais? Talvez as diga. Escrever é uma pedra lançada no fundo do poço. (Clarice Lispector)


Será difícil expor em pequenas palavras a grandiosidade do momento. Momentos que se tornam ímpares na vida de cada escritor. Escritor de encantos e de cantos diversos, escritor que vislumbra o tempo e as situações menos perceptíveis pelos transeuntes de uma cidade tão tentacular. São Paulo, beldade de concreto diante da singularidade de cada metáfora.
Como diz o poeta em um de seus escritos, uma cidade do seu tempo ou de tempos remotos para aqueles que assim preferem. E reafirma “Não sei se por encanto ou desencanto não as encontrei em nenhum canto”. Saudades de um tempo de lembranças e do contato mais humano, mais direto que o homem oportunizava no seu dia a dia.
Ah! Em que canto você está? Assim em alto tom indaga a seus leitores. Estarás sozinho em seu canto ou necessita de palavras para compor o seu canto? Canto de solidão ou de insensatez? Canto de euforia ou de melancolia? Poeta andante, de palavras em forma de prosa, traz na sua magnânima performance escrita uma adjetivação particular de poucos que percebem nos sentimentos, nas expressões corriqueiras a sensibilidade de um tempo sem alma ou seria sem calma. Todos, na sua angústia, esquecem-se do tempo e se servem ao tempo. São então homens subumanos quando não se percebem no mundo.
Claro. Não são todos os meros passantes que se movem diante deste tempo.
Na sua primeira gestação, como assim menciona, o nobre escritor apresenta “uma história não sei se em prosa ou poesia, mas sei que de suas facetas trazem consigo um povo sofrido e vivido”. Uma cidade que diante da sua extensão, cresce, incha, inflama – verbos que remetem a uma população sem rumo. E necessariamente, um dos fatores que é chave deste turbilhão é a escola, sem significância para muitos; a família sem identidade; a cultura aculturada e a televisão como grande condicionadora dos demais caminhos.
E então questiona “Tudo pode começar com educação?” Querer discutir sobre tema tão permissivo na teoria, embora tão complexo na prática hodierna. Que educação se faz e se oferece aos nossos educandos? Tarefa árdua, mas promissora. Não se fazem homens sem que antes se tenha o desejo de mudança. E compactuando com este desejo de estraçalhar a estandardização que a sociedade circunscreve, as tessituras de seus escritos se fundem e convida cada leitor a ser Leitores, promover um encontro com o livro. Acoplado ao convite, a certeza de continuar na luta em busca de leitores do próprio mundo, um pedido é feito “Falar mais ao ouvido que aos ouvidos, não só concilia maior atenção, mas naturalmente e sem força se insinua, entra, penetra e se mete na alma. Sempre os sábios souberam lidar com esta lida”.
Ás vezes sem rumo, outrora sem prumo para compor sua melodia. Desfaz em palavras seus versos e na conjuntura da narrativa indaga, questiona, propõe ser escritor de palavras, porque um escritor quer ir além; não quer meras palavras, quer tocar o leitor e propor reflexões, diálogos e quem sabe possíveis discussões. No momento da leitura de tão belas palavras é o momento do encontro do leitor com seu espelho e diante deste, o livro, se percebe presente, seu reflexo.
Enfim caro escritor, abrem se as páginas de um novo livro, o livro da história, da memória e neste estás suas simples e grandiosas palavras que vão marcar aqueles que se despirem das amarras do tempo e se libertarem para a leitura. Destarte, trago apenas um segredo proferido por Mario Quintana “O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você”.
Um grande abraço de pessoas que acompanham suas palavras e se embriagam em cada metáfora pulsante e reflexiva.

09/09/2010

Teus olhos


Lágrimas?
Sim. Ás vezes nem percebemos o quanto somos importantes para os outros e de imediato percebemos que as pessoas mais simples, que as pessoas no seu silêncio, guardam consigo um sentimento não mensurável: o valor de ser importante. Será realmente que somos de tamanha importância?
Perceber-se significativo, ocupante de um espaço no cantinho da vida de alguém. Apenas algumas horas diárias, algumas mínimas palavras. São tudo, o toque e a sensibilidade de cada palavra, o carisma, e quem sabe uma reprimenda são artefatos que contribuem ou complementam o fato de sermos e estarmos presentes em cada um.
Um rosto rubro, uma lágrima que rola a face inocente e dentro do peito uma vontade intensa de ser dupla e perfilar por todos os caminhos. Por que temos que fazer escolhas e destas escolhas arrancar do peito as pessoas que nos fazem mais humanas?
Explicar a grande dificuldade de como superar este momento. Tentei assim justificar-me. Mas sei que talvez a inocência desta tenra idade nos olhos de quem chora me ensine a ser forte e capaz de continuar nesta caminhada.

07/09/2010

Manifesto...


Por que está presente?
O que a presença provoca?
Mas é preciso presença para se estar presente?
Claro que não. Estaria sendo ingênua se pensar que o corpo só se concretiza com o contato direto, mas além da presença, do contato ( está palavra que ás vezes é preciso um verbete de dicionário para reconhecê-la) há algo inexplicável.
Se estar presente em pensamentos, em palavras ou através das melodias que nos dão vozes, ou melhor dizendo nos promovem o momento da fala através do eu-lírico presente nas suas canções.
Então, não se estar presente apenas com a presença.
As vezes, a presença se distancia ou se afasta não estando tão presente quanto se imagina.
Assim se faz ou desfaz a completude ou incompletude de cada um que se depara sentindo falta de outrem.

02/09/2010

O silêncio gritante


A garrafa vazia em minha direção
O silêncio interior confronta com as vozes que me sufocam
Conflito diário
De indagações e de respostas sem perguntas
Ou de perguntas sem respostas
Vozes, gritos, lágrimas
O corpo chama
a mente turbulenta
E o mundo lá fora
Parece fazer parte do meu peito
Tons nublados
Cheiros agonizantes
Bocas murmurejam
Pernas se deslocam
e nenhum caminho a decifrar

Outra época de fogo
Outro tempo de insensatez
Outro momento outro
Que remete-se a situações
talvez incertas de sua concretização
Mas paralelas na sensações
Dores,
Por que doí tanto dentro do meu peito?
Que motivo o faz arrebentar entre as paredes internas do meu intimo?
não tenho mais uma vez uma assertiva que me consola
Mas espero com a agitação
A certeza de ser pelo menos eu mais uma vez